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Mulher de olhos fechados em um fundo colorido e florido.

Sobre o livro:

O projeto literário nasce de uma necessidade de refazer a recente jornada de perda momentânea da sanidade mental e o reencontro comigo mesma. O livro é uma carta aberta à mim e aos meus afetos, uma espécie de diário em que relato os momentos mais obscuros das Sombras, passando pelo processo de Cura até chegar à Luz.

 

O livro/ diário é dividido em três partes, que retratam o meu processo e a forma como percebi cada uma das fases pelas quais atravessei. Em cada capítulo, trago a definição do conceito em questão e as minhas experiências, ora em forma de poesia, ora em prosa.

 

O leitor é guiado por esta trajetória de maneira afetuosa, apesar da narrativa crua. Trago referências de minhas crenças religiosas, de minha relação com minha mãe e com outros personagens que tiveram presença marcante nesse processo - seja para o bem, ou para o mal.

 

Trata-se também de um projeto imagético, por isso, as ilustrações e colagens produzidas por mim são essenciais para contar essa história. Elas são tão importantes quanto às palavras, pois trazem muito de minha história e imprimem ritmo, cadência, ao mesmo tempo em que revelam sentimentos.

Olhos fechados, só se for para intencionar bons ventos

1. AS SOMBRAS​​

 

Da definição.

 

As sombras são como um oráculo sádico, onde habitam seres moribundos e odiosos, que intencionam o mal. O ódio impera como um rei seboso sentado em seu trono mofado de cores saturadas e sombrias. Num breu alucinante, no poço raso, onde se encontram as sombras ruidosas, o eu bélico permanece amarrado.  E então, o amargor e o ranço fazem morada.

 

Do que vivi.

Foi um longo período na sombra, no qual me perdi, a tal ponto de acreditar que não sairia mais daquele emaranhado, que me sufocou à quase morte. Cheguei a duvidar se dali emergiria, daquele lugar escuro e amedrontador.​Tenho certeza de que momentaneamente, perdi a sanidade.

Nos momentos mais alucinantes, rasgava roupas e livros,querendo mesmo era ter coragem para me rasgar inteira. 

 

Por vezes, encontrava certa paz em algum objeto, e ali com ele, permanecia por horas a fio, como se houvesse um grande segredo a ser desvendado. Torcia e retorcia, até que ele acabasse completamente desfigurado.

 

Em uma dessas crises, me deparei com minha mãe, que só soube ajoelhar e rezar.

 

Ela me disse depois que não era a sua filha quem estava ali. Os olhos eram duas cavidades ocas, não havia mais alma.

Mulher em preto e branco com um olho tapado pela sua mão.

É quando descemos até as profundezas de nossas próprias sombras, que os vampiros se aproximam para sugar cada gota de energia, vitalidade, brilho e, por fim, da vontade de viver.

 

A Fenda de Narciso (ou Carta a um Vampiro)

 

Tenho pensado nisso.
Naquilo que você fez e faz com cinismo.

 

Apontei, e então você não conseguiu ficar.
Partir é um momento, uma fenda no tempo. 

 

Mas repara só:

 

Essa fenda é também buraco,
que dá no fundo de um poço espelhado,
onde Narciso se prende
pra nunca mais.

 

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